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Servir e ser um com o povo

O que leva um sacerdote espanhol a atravessar o Oceano Atlântico e viver na região amazônica para compartilhar a fé e as dificuldades dos povos daquela região? As alegrias e os desafios da missão que desenvolve na Amazônia estão entre os temas da entrevista que o padre Luis Miguel Modinho concedeu ao Vatican News.

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26.08.2022 | 7 minutos de leitura

Servir e ser um com o povo

Marília de Paula Siqueira - Cidade do Vaticano

Esse é o testemunho que padre Luis Miguel Modino quer dar ao povo da Amazônia. Padre Luis, que é natural de Madri capital da Espanha, foi ordenado em sua diocese de origem Madri, em 1998. São quase 25 anos de sacerdócio! E de todos esses anos de presbiterado, 16 anos tem sido em terras brasileiras. Padre Modino fez parte da equipe de comunicação do Sínodo da Amazônia. 

Filho da Igreja

Padre Modino esteve em Roma acompanhando os bispos dos Regionais Norte1 e Noroeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por ocasião da visita ad limina e conversou com Silvonei José nos estúdios Vatican News.

O sacerdote tem se dedicado longos anos na evangelização em terras da Amazônia. Ao ser questionado sobre o caminho para chegar à região afirmou: “Logo após ser ordenado sacerdote, trabalhei em uma paróquia em Madri e esta tinha uma Igreja irmã na Arquidiocese de Feira de Santana, uma paróquia em Serrinha. Naquele período não existia a Arquidiocese de Feira de Santana e Serrinha ainda não era diocese. Fomos ao Brasil acompanhando um grupo de jovens que desejavam conhecer a missão e também a proposta de ter uma aproximação maior entre as Igrejas irmãs.

Estando em Serrinha percebi uma necessidade de evangelização e pedi que voltasse para aquelas terras. Neste primeiro momento não teve sucesso o pedido de ir para o Brasil, mas em 2006 fui enviado à Diocese de Rui Barbosa, também no interior da Bahia, onde atuei até o início de 2016. Após 10 anos fui enviado à Diocese de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, para acompanhar comunidades indígenas, principalmente entre as fronteiras com a Colômbia e Venezuela, uma experiência enriquecedora.

Já em 2018 fui convidado a trabalhar na equipe de comunicação da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica) em preparação para o Sínodo da Amazônia. Nesta missão exigia-se viagens e um bom sinal de internet. Visto que no interior essas necessidades não seriam atendidas, me mudei para Manaus. Durante a preparação e o desenvolvimento do Sínodo da Amazônia colaborei na equipe de comunicação. Desde 2021 também atuo na equipe de comunicação CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) e acompanho uma área missionária que está sendo criada com comunidades ribeirinhas no Rio Negro.

Ao ser questionado sobre uma possível volta à sua cidade de origem, Pe. Modino - como é conhecido - não tem dúvidas em afirmar: “Em meus pensamentos está a decisão de continuar no Brasil, mas entendo que sou filho da Igreja e se o arcebispo de Madri chamar para voltar, teria que voltar.”

As dores dos povos na Amazônia

 

Desde 2016 o sacerdote espanhol se dedica à Igreja presente na Amazônia, à qual o Papa Francisco sempre faz referências, tendo já escrito o Documento Querida Amazônia,  no qual reflete sobre os sonhos eclesiais para a Igreja daquela região do Brasil.

Sobre os sinais que a Amazônia tem dado pela voz da Igreja, o padre diz: “os principais clamores são os dos povos e da terra, estes estão interligados. O sofrimento do bioma Amazônico provoca sofrimento na vida do povo, que reflete principalmente na vida dos mais pobres. São situações de lugares como escolas que são precários que provoca profundas dores.

A saúde dos ribeirinhos e comunidades indígenas é de grande sofrimento e padeceram muito mais durante o período da pandemia. Sobre a poluição, garimpo, pesca predatória, invasão de terras e devastação digo que são situações de calamidades e não há respeito pela lei. Isso tem resultado em migrações dos povos das comunidades e que se torna um perigo. Ao sair de suas comunidades, ribeirinhos e indígenas migram para as grandes cidades e isso facilita a invasão das terras, pois estes povos ao estar em seus terrenos conseguem cuidar e proteger.”

Crescer a presença da Igreja na Amazônia

 

A presença da Igreja na região da Amazônia também foi destaque da conversa: “Tenho que reconhecer que a nossa presença ainda é muito limitada, muitas vezes por falta de possibilidade. É preciso procurar meios para que essa presença seja maior e sem atropelos de tempo. Quando se visita uma comunidade carece ficar ao menos um dia inteiro para realizar um bom trabalho. Seria uma “perda de tempo” na mentalidade ocidental, mas é perder tempo na companhia das pessoas, com diálogos e momentos de acompanhamentos da vida daquela comunidade. Geralmente em uma comunidade se mora cerca de quatro à cinco famílias, em um total de trinta pessoas.

Não é fácil aplicar uma formação sistemática, pois eles rezam a partir do próprio sentimento. Mas com um bom acompanhamento é possível passar de uma Igreja de visita para uma Igreja de presença.”

Caminhos possíveis para a Igreja na Amazônia

 

 A presença da Igreja seria mais forte se houvesse uma maior quantidade de sacerdotes, pois o número é reduzido. Um trabalho com jovens daquela região para o caminho sacerdotal seria um bom caminho.

Pe. Modino afirma que este é um percurso que precisa ser trilhado: “Devemos incentivar as vocações locais. Mas a grande dificuldade está por conta do período da pandemia que reduziu drasticamente o número de vocações. Precisamos ampliar o horizonte que o presbítero deve ser ordenado para a Igreja particular e também universal. O sentimento missionário deveria ser mais trabalhado nos seminários no Brasil.

Um outro caminho proposto é retomar o processo das igrejas irmãs no Brasil. O Santo Padre tem incentivado também a presença de casas religiosas na Amazônia. Devemos buscar caminhos para uma maior presença nas comunidades.

Os evangelizadores do povo na Amazônia também devem fazer alguns esforços para que o evangelho seja anunciado. Um exemplo de esforço que podemos dar é aprender a língua dos povos indígenas, para atender confissão, cantar como eles e até mesmo celebrar a Santa Missa. Estes povos tem um sentimento de fé muito profundo.”

A vida nos rios

 

Uma nova experiência que o sacerdote o vive é com as comunidades ribeirinhas. Sobre esse novo trajeto ele diz: “Posso dizer que essas novas comunidades são frutos das migrações que os povos originários fazem para cidade. São comunidades de indígenas que moravam no alto do rio Negro e vão para essas comunidades mais próximas de Manaus. Se mudam para garantir saúde e educação. O número de comunidades que fazem parte desta área missionária é de 23 comunidades nos rios e que desenvolvemos acompanhamento com a ajuda de três irmãs e quatro seminaristas.

Uma experiência negativa que tivemos recente foi de sermos assaltados à mão armada no rio e levaram nosso meio de transporte. Isso não faz parar a missão, mas dificulta, estamos procurando outra voadeira para as missões nestas comunidades.

Os assaltos realizados por piratas na Amazônia não são casos isolados, mas acontecem com frequência. Nesta ocasião que fomos assaltados, digo que pela graça de Deus não atiraram em ninguém. Em outros casos levam pessoas como refém, atiram e se assaltam quando os barcos que estão no meio do rio fazem com que a tribulação pule no rio para levarem o barco e tudo que tem nele. São piratas vinculados com traficantes.

São situações que todo povo da Amazônia passa, que nós também passamos, mas não perdemos a motivação.”

Servir e ser um com povo

Para concluir o sacerdote enfatizou o processo de escuta do Sínodo da Amazônia: “quase oitenta e sete mil pessoas foram escutadas, está foi uma experiência riquíssima que sendo vivenciada por toda Igreja presente na Amazônia. Estamos criando a cultura de escuta que pode ajudar as pessoas terem laços com a Igreja e resulta em comprometimento.

As pessoas se sentem valorizadas quando são escutadas. Servir e ser um com povo esse deve ser nosso testemunho.” 

 
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