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Gratidão, fé e esperança: 115 anos de fundação da Obra Calabriana

Notícias

25.11.2022 | 12 minutos de leitura

Gratidão, fé e esperança: 115 anos de fundação da Obra Calabriana

Estimados irmãos e irmãs da Família Calabriana.

Celebramos neste dia, 26 de novembro de 2022, 115 anos de fundação da Obra Calabriana. Um marco na vida de São João Calábria, para as crianças acolhidas, para Verona e para a Igreja. Ele não imaginava que naquele dia estava brotando uma semente lançada por Deus em seu coração e na sua Igreja. Uma Obra com características tão especiais e particulares.

Ao nos reportarmos àquele dia, tentemos imaginar quanta alegria, fé, esperança no coração deste jovem sacerdote e de todos os que estavam com ele. “Depois de rezar o terço e receber a bênção do Padre Calábria, na sacristia de São Bento do Monte, um grupinho de meninos franzinos, cada qual com sua trouxinha de roupas no ombro, encaminha-se para a nova sede. Com simplicidade, sem inaugurações, nem fitas para cortar, começa a Obra dos Bons Meninos. [...] Padre João gostava de agir na sombra e na humildade” (buseta e taneta [toquinha e covinha])¹. 

Assim iniciou a Obra que se estendeu pelo mundo com o passar dos anos. Sem holofotes, mas muita oração, humildade, simplicidade, fé, abandono na Divina Providência. As obras de Deus são assim. Longe das especulações humanas e midiáticas, nascem no silêncio e no escondimento, para manifestar a grandeza da ação divina.

Segundo Padre Mario Gadili, “o único aviso público é um bilhetinho que o Padre Calábria escreve na manhã seguinte ao seu querido amigo Padre Pio Visentini, companheiro de escola e de apostolado entre os doentes: ‘Dou-lhe uma boa notícia... Ontem em São João do Vale foi aberta uma pequena casa. Deus até agora conduziu bem as coisas. Lá estão sete meninos e com eles mora o padre Deodato Desenzani. Peço-lhe que me ajude com a oração e depois... também como Deus lhe inspirar. Por enquanto você é o único padre a quem fiz uma participação formal. A Deus ofereci, se ele quiser aceitar, esta minha pobre vida... Padre Pio, fiquemos unidos no Senhor. Seu em Cristo. Padre João Calábria. Reze para que eu possa amar o sofrer”².

A certeza de que Deus estava acompanhando tudo fez com que Padre Calábria desse passos firmes na Obra. Não deixou que a dúvida tomasse conta dele. Seu coração estava focado unicamente em Deus. Por isso, podemos dizer também que ele foi muito ousado para sua época. Não se deixou abater pelas circunstâncias adversas que não faltaram.

Esse início da Obra deve nos inspirar e motivar hoje. Os Capítulos Gerais que celebramos neste ano nos convidaram a “Começar”. Isso não significa que devemos jogar fora tudo o que fizemos até hoje. O começar é antes de tudo uma atitude de motivação interior. Começar cada dia uma vida de maior sintonia com Deus, vivendo com alegria nossa vocação e consagração. Assim vamos iluminando nossas comunidades e missões, fazendo resplandecer nelas e, através delas, ao mundo a luz de Deus. 

Sentimos muitos desafios no tempo presente. Não foi diferente no tempo de São João Calábria. Não pensemos que as dificuldades deste tempo são maiores ou piores das que ele enfrentou. Precisamos olhar tudo a partir de Deus. A vida espiritual nos dá serenidade diante das provações, pois sabemos que Deus tudo conduz. E estando em suas mãos, estamos em boas mãos. Por isso nosso Pai dizia que quanto maior o desafio, precisamos ter mais fé, rezar mais, viver a santidade. “Certamente haverá momentos de provação, momentos difíceis, mas os momentos difíceis são os momentos de Deus. Neste caso, mais fé, mais oração, mais amor ao Senhor, e a provação será coroada, a nossa fé será premiada”³.

Ao celebrar os 115 anos de fundação, olhando para aquele dia em que tudo começou, lembramos que Deus nos quer caminhando rumo a terra prometida. Estagnar é adoecer. Aqui refiro-me sobretudo na dimensão espiritual. Quando deixamos de rezar, de meditar a Palavra de Deus, de celebrar a Eucaristia, vamos definhando. Todos são prejudicados, porque na Delegação, na Obra, todos somos importantes e quando um está doente, sobretudo espiritualmente, todo o corpo sente. São Paulo reflete isso muito bem quando escreve aos Coríntios: “Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele” (1Cor 12,26).

Quando falamos de começar, lembremos também o povo de Deus. “O Senhor disse a Abraão: ‘Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar’ [...] Abraão partiu como o Senhor lhe tinha dito” (Gen 12,1.4). Creio que precisamos continuar avançando sem medo. Urge deixar aquilo que não condiz mais com nosso carisma, como nosso estilo de vida, segundo o Santo Evangelho. Uma vida de mais fraternidade, fé, amor, alegria, coragem é uma profecia para os tempos de hoje.

Sabemos que nossas atividades são conduzidas primeiramente por Deus, mas também com a dedicação, empenho, paixão, amor dos religiosos, religiosas e colaboradores. Somos uma grande Família que chamada pelo Senhor e apaixonada pelo carisma se dedica ao anúncio do Evangelho. Neste dia expresso também minha gratidão a cada um. 

Estamos celebrando o ano jubilar do nascimento de São João Calábria. A vida dele foi importante para que a obra de Deus acontecesse. Hoje somos nós que devemos dar a vida para que esta Obra continue. Inspiremo-nos pela sua fé, amor, dedicação, entusiasmo, visão profética, testemunho de vida, esperança, ousadia e profunda confiança na Divina Providência. 

Celebrar esse dia nos faz olhar para o futuro do Obra. Sabemos que ela é de Deus e por Ele é conduzida. Mas o Senhor conta com a nossa colaboração. Graça, privilégio e responsabilidade. Junto com essa realidade, precisamos continuar o caminho da cultura Vocacional. Estamos celebrando o 3º Ano Vocacional do Brasil com o tema “Graça e Missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho”. 

Considero importante rezar e trabalhar pelas Vocações. Nossa vida deve ser a melhor forma de fazer animação vocacional. Para nos auxiliar ainda mais, nossa Delegação está desenvolvendo diversas iniciativas neste âmbito. Lançamos a campanha vocacional que traz como lema: “Ouve teu coração e me segue”. Queremos ajudar nossos jovens a escutar Deus falando em seus corações e a segui-lo sem medo.

Celebremos este dia com alegria e gratidão, renovando nossa fé e esperança. Deus abençoe a todos!

Padre Jaime Bernardi, psdp
Delegado

____________________
¹  GADILI, Mario. São João Calábria. Biografia oficial. p. 142.
² Ibidem, p. 142-143.
³  CALÁBRIA, SÃO JOÃO. Cartas aos Religiosos. Carta XXXII, Santa Quaresma, 1943.

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Disponibilizamos abaixo a belíssima reflexão que São João Calábria escreveu quando a Obra completava 25 anos de fundação. Esta carta data 26 de novembro de 1932. Acompanhe:

Caríssimos irmãos no Senhor.

Nos dias passados, por uma grande graça de Deus bendito, Dono absoluto desta Obra que se chama dos Pobres Servos da Divina Providência, assistimos com sentimentos de alegria e de reconhecimento às festas do seu jubileu. Há 25 anos a Providência, com olhar e cuidados muito especiais, quis fundar esta Obra para que seja luz e salvação para tantas e tantas almas; e é claro, pela nossa mente passaram grandes pensamentos.

Meditamos sobre toda a longa série de favores, de graças, de benefícios que o Senhor, durante esses 25 anos, derramou sobre essa sua Obra, sem considerar as demais graças, os demais dons, os demais benefícios que, por serem de ordem sobrenatural, não são por nós meditados e valorizados como aquilo que nós vemos e que se apresenta aos nossos sentidos.

No entanto é um fato que essa Obra, como várias outras vezes já lhes falei, nos desígnios de Deus cumpre estas maravilhas com a sua simples existência. Acreditem: a Obra é grande, aclara tantas e tantas mentes que vivem na escuridão e que, iluminadas por essa luz, correm para Deus, a Ele se doam e a Ele servem.

Essa Obra é uma voz contínua que chama tantos e tantos pobres irmãos nossos que estão à margem do caminho levando-os a pensar, a meditar; e assim os seus corações, enriquecidos pela graça divina, se dirigem das coisas caducas e míseras desta terra às coisas eternas do céu, convictos de que, se pensarem em Deus, em buscar o seu reino, a divina Providência lhes concede em acréscimo os meios e as coisas temporais. E não lhes parece, ó meus irmãos, que esta seja uma grande Casa nos desígnios da Providência?

Só no Paraíso poderemos entender, poderemos compreender o bem, os desígnios que o Senhor cumpriu por meio desta Obra; sim, e isso se nós vivermos segundo o espírito todo próprio e particular, o qual, tenho toda certeza, foi objeto de grandes meditações e fonte de novas e eficazes propostas neste 25o aniversário de fundação. É uma graça muito grande a que o Senhor nos fez chamando-nos a fazer parte desta sua grandíssima Obra, graça que Ele mesmo, o Senhor, coroou sensivelmente com a aprovação da sua Igreja.

Lembremo-nos todavia, ó meus queridos, que ao mesmo tempo pesa sobre nós uma grandíssima responsabilidade, pois somente de nós, unicamente de nós depende que essa Obra viva, prospere, se difunda, realizando o bem pelo qual a Providência divina a fundou.

Amados irmãos, o que lhes direi desta Obra? Ah, esta é um grandíssimo e perfeito trem! Não falta nada. Sobre esse trem, sobre esse navio, continuamente sobem viajantes que pedem para serem conduzidos ao porto. Oh, um maquinista que não faz o seu próprio dever, que não esteja atento, quanta responsabilidade, quanto estrago, quantas mortes poderá semear e com que castigos irá se deparar!

Irmãos meus, nós somos os maquinistas deste místico trem que o Senhor confiou a nós para que o guiemos. Que grande responsabilidade pesa sobre nós, que prestação de contas deveremos apresentar ao Senhor no dia do grande chamado e que castigo nos espera se, por nossa culpa, as almas não puderam viajar, se perderam!

Oh, queridos, neste momento eu rezo, suplico, eu por primeiro, que vocês pensem, que vocês vejam, se realmente estão vivendo, agindo, operando como Deus quer e como as nossas santas Constituições pedem, as quais peço que leiam seguidamente, que as tenham em sua mente e em seu coração. 

Como tantas e tantas vezes já lhes disse e repeti: o nosso pensamento, o nosso empenho esteja somente em buscar o santo reino de Deus. Nada de ânsias, nada de preocupações, angústias, pensamentos com as coisas temporais. O nosso pensamento, o nosso cuidado esteja com a exata observância das nossas santas Regras, com a fidelidade perfeita quando se trata das práticas de piedade, de modo particular as da comunidade.

Deixem tudo, mas não deixem as práticas de piedade. Quando eu vejo que falta alguém, sinto um aperto no coração, pois vejo um desconcerto na Obra, vejo que o diabo rejubila, e que aquele coitado é enganado por uma falsa luz. 

E para nós sacerdotes, grande espírito de fé no nosso ministério; na medida do possível, além disso, recomendo que o santo ofício seja rezado na igreja e comunitariamente. E quanto à santa Missa, oh, como se deve celebrá-la! Uma santa Missa devotamente celebrada, quanta riqueza poderá trazer para as nossas almas, para o nosso ministério, para a nossa Obra!

A isso acrescento uma ardente recomendação: que todos tenhamos grande caridade; sacerdotes e irmãos sejam um só corpo. Devemos ajudar-nos uns aos outros na realização, nesta grande Obra, da vontade de Deus.

Nos acontecimentos, nas provações, ver sempre Jesus, que quer ou permite tais coisas para o nosso bem e para o bem desta sua Obra, dizendo: Dominus est.

Nós, irmãos, membros desta santa Congregação, lembremo-nos bem que devemos ser como muitos faróis acesos pela divina Providência, continuamente alimentados, através do nosso espírito totalmente especial e próprio, por essa luz. Tenho absoluta certeza de que se nós, com a divina graça, vivermos na prática esse espírito, imenso será o bem que faremos e inumeráveis serão os desígnios que a divina Providência realizará por nosso meio; mas cabe a nós manter viva e acesa essa lâmpada de Deus, que ficará viva e acesa se nós a alimentarmos com o óleo da fé, do amor de Deus, da caridade.

Queridos irmãos, de joelhos e com as mãos unidas peço e suplico: cuidem para que reine sempre soberana na nossa Obra essa virtude, que sejam sempre banidas as críticas, as murmurações, as invejas!

Lembremo-nos que nós todos somos operários, agricultores do mesmo dono, que é Deus, postos aqui para trabalhar no seu campo assim subdividido: Nazareth, San Zeno in Monte, Costozza, Aspirantes, Madonna di Campagna, Roma. Um só terreno, que cada um deve trabalhar na parte que lhe compete, mas sempre sabendo que faz parte do mesmo campo de Deus. Alegrar-se, portanto, quando uma das partes for melhor cultivada, mais rica, e ajudar a mais pobre e vice-versa, tendo sempre presente que fazemos parte de um único campo.

Nas nossas orações, nas nossas visitas, na santa comunhão peçamos ao Senhor esta graça, este espírito, a caridade, porque isso é tudo; e como outras vezes lhes disse, nada poderá abater ou parar esta Obra. O que pode fazê-la parar ou desviar-se é a falta de caridade entre nós, é o espírito de crítica, de inveja, de murmuração, tudo isso sendo partes do nosso amor próprio, da nossa soberba.

Há dias alegres e dias tristes, de provação, de dor para todos; esses dias, vamos partilhá-los uns com os outros, pois se trata de provações da mesma família.

A fé na Providência, além disso, seja sempre o nosso ponto de apoio, a nossa rocha. Lembremos que a Providência jamais faltará, se fizermos a nossa parte.

Nos momentos de provação, mais fé, mais observância das Regras, e Deus, com toda certeza, nos dará tudo aquilo de que temos necessidade.

Lembremos todos que as oficinas são um grande meio de Providência e é dever de todos os irmãos cooperar, sob a responsabilidade do irmão encarregado, para o bom andamento das mesmas, sem ânsias nem preocupações, tendo presente que assim fazendo damos glória a Deus, mantemos elevado o bom nome da Obra e santificamos as nossas almas. 

Sac. J. Calabria

 
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